É comum que estudantes de graduação, pós-graduação e pesquisadores iniciantes enfrentem dificuldades ao iniciar a redação de seu artigo acadêmico. De fato, pode ser desafiador sintetizar – por vezes numa quantidade predeterminada de palavras – meses ou até anos de pesquisa.

Para elaborar um artigo satisfatório, o autor precisa conhecer a estrutura desse tipo de texto. Embora os modelos possam variar de uma instituição ou periódico científico para outro, é certo que o pesquisador terá de redigir uma seção em específico: a introdução. A principal mensagem aqui, antes de nos debruçarmos sobre a estrutura desse tópico tão importante, é focar na experiência do leitor.

A maioria dos trabalhos acabam se concentrando mais nos autores pesquisados ou em outros pesquisadores e falham ao não deixar claras as motivações do projeto, muitas vezes sobrecarregando o texto com detalhes desnecessários, o que pode limitar seu interesse a um público mais restrito[1].  

Também é fundamental, antes de tudo, entender a função de cada seção do texto. No caso da introdução, seu principal objetivo é contar, resumidamente, a história que levou à pergunta de pesquisa[2]. Para isso, o autor precisa apresentar o contexto do qual está partindo, orientando leitores menos familiarizados com o tema[1]. É ali que o pesquisador vai delimitar o assunto tratado, além de expor os objetivos da pesquisa e outros elementos necessários para situar o tema do trabalho em um contexto geral[3]

Imagem de 3 livros empilhados em uma mesa, com o braço de uma pessoa ao fundo desfocada, se apoiando na mesa e escrevendo em um caderno.
Escrever um artigo acadêmico pode ser desafiador, mas a estrutura da introdução é essencial. Foque na experiência do leitor e apresente o contexto do estudo, os objetivos e a contribuição do autor.

Na introdução, o autor deverá também explicitar a motivação de sua pesquisa: por que ela foi feita? Qual sua importância? A maneira indicada de fazer isso é partir da apresentação do contexto citado acima, pois, apontando o que se sabe sobre o tema, o autor pode também demonstrar o que ainda não se sabe, ou seja, as lacunas existentes[4]

Esse contexto pode ser construído por meio das referências bibliográficas, com as quais o autor delineia o chamado estado da arte: as circunstâncias científicas nacionais ou internacionais em que a temática está localizada[5]. É assim, relacionando-se com a literatura pertinente, que o pesquisador mostra ao leitor que sua pesquisa está assentada em bases sólidas[6]. No entanto, é preciso lembrar que somente informações cruciais para a pesquisa em questão devem ser inseridas na seção. 

É fundamental, ainda, que o autor determine bem a sua pergunta de pesquisa, uma vez que é ela quem guiará o estudo e, consequentemente, a redação do artigo. É a partir da pergunta que se definem os objetivos do trabalho, os quais devem constar de forma clara e precisa na introdução. O tradicional é que a apresentação do estado da arte culmine nos objetivos do trabalho, mas também é possível iniciar a introdução partindo de outros pontos: da problemática, do objetivo em si ou mesmo “de uma história interessante”[7].  

Para explicitar aquilo que é chamado de tarefa, o autor deve, também, citar brevemente o que foi feito para atingir o objetivo, isto é, as ações adotadas, que serão detalhadas na seção de material e métodos do artigo – tema a ser abordado num próximo post. Com isso, o pesquisador demonstra sua contribuição como cientista[1]

É possível que o autor opte por mencionar ainda, de passagem, os principais resultados obtidos e a conclusão central, facilitando a visualização do caminho que o artigo percorrerá para aquele que irá adentrá-lo, sempre de olho em captar o interesse do maior número de leitores possível, estudiosos do tema específico ou não. 

Com essas dicas, esperamos ter ajudado a suavizar a jornada rumo à conclusão de seu artigo. Aproveite para nos contar, nos comentários, quais dúvidas você costuma ter ou teve durante a redação de seu trabalho!

Autora

Laura Fedrizzi Salere

Revisora de Português e Conteudista – Editora Pecege

Referências  

[1] Doumont, J. (ed.). 2010. English Communication for Scientists. NPG Education, Cambridge, MA, USA. Disponível em: <https://www.nature.com/scitable/ebooks/english-communication-for-scientists-14053993/>. Acesso em: 14 ago. 2023.  

[2] Cáceres, A.M.; Gândara, J.P.; Puglisi, M.L. 2011. Redação científica e a qualidade dos artigos: em busca de maior impacto. Jornal da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia 23(4): 401-406. DOI: 10.1590/S2179-64912011000400019

[3] Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) – Universidade de São Paulo (USP). 2010. Diretrizes para elaboração de trabalhos acadêmicos na EESC-USP: versão preliminar. EESC-USP, São Carlos, SP, Brasil. Disponível em: <https://porvir.org/wp-content/uploads/2013/08/tcc_-_diretrizes_EESC_v_2010.pdf>. Acesso em: 14 ago. 2023.  

[4] Yoshida, W.B. 2006. A redação científica. Jornal Vascular Brasileiro 5(4): 245-246. DOI: 10.1590/S1677-54492006000400002

[5] Caetano-Chang, M.R. 2012. Redação científica. Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE) – Universidade Estadual Paulista (Unesp), Rio Claro, SP, Brasil. Disponível em: <https://igce.rc.unesp.br/Home/Departamentos47/geologiaaplicada/apostila—redacao-cientifica_senha.pdf>. Acesso em: 14 ago. 2023. 

[6] Pereira, M.G. 2012. A introdução de um artigo científico. Epidemiologia e Serviços de Saúde 21(4): 675-676. DOI: 10.5123/S1679-49742012000400017

[7] Volpato, G.L. 2015. O método lógico para redação científica. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde 9(1): 1-14. DOI: 10.29397/reciis.v9i1.932.

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